O que sustenta o valor de uma empresa não é apenas o que ela vende, mas o que ela organiza entre quem constrói e quem herda.
Da fundação ao crescimento: contratos e acordos que sustentam a empresa
Toda empresa nasce com um documento que deveria ser tratado como seu verdadeiro alicerce: o contrato social. É nele que se registram não apenas os dados formais para abrir um CNPJ, mas também as regras que podem garantir a longevidade da sociedade: critérios de entrada e saída de sócios, sucessão, divisão de responsabilidades e distribuição de resultados. Ainda que, no início, muitos empreendedores não se atentem a esses detalhes, o contrato social já deveria refletir a seriedade do projeto e antecipar possíveis cenários. Afinal, não basta pensar em como começar — é preciso também prever como lidar com mudanças inevitáveis ao longo do caminho.
À medida que a empresa cresce, fica claro: é na base societária que repousa a confiança necessária para sustentar o negócio e atrair investimentos. Contratos comerciais organizam a operação, mas são os contratos societários que protegem o valor do negócio e pavimentam sua continuidade.
E aqui entram dois instrumentos que, embora diferentes, se complementam de forma poderosa: o Acordo de Sócios e o Protocolo Familiar.
Acordo de Sócios
Voltado para a relação entre sócios, o acordo é o documento que define regras de convivência prática e juridicamente exigíveis: entrada e saída de sócios, quóruns de decisão, distribuição de lucros, cláusulas de não concorrência, solução de impasses. É ele que dá estabilidade ao negócio no presente, reduzindo incertezas e prevenindo conflitos que poderiam travar a empresa.
Protocolo Familiar
O protocolo, por sua vez, vai além da letra fria do contrato. Ele traduz a essência da família empresária: seus valores, missão e visão de futuro. É nele que se registram princípios de sucessão, critérios para participação de herdeiros, compromissos com a educação da próxima geração e até regras diferenciadas para diferentes ramos da família, quando necessário. Enquanto o acordo organiza juridicamente a relação entre sócios, o protocolo estabelece uma cultura compartilhada, que humaniza e orienta decisões nas próximas décadas.
Na prática, o protocolo inspira e alinha, enquanto o acordo exige e faz cumprir. Um garante a previsibilidade no curto prazo; o outro assegura a longevidade no longo. E quando ambos conversam entre si e se refletem nos atos societários, a empresa ganha mais do que proteção: ganha direção e harmonia.
O grande risco das empresas familiares não é apenas o mercado ou a concorrência, mas a falta de alinhamento interno. Conflitos de herdeiros, divergências entre gerações e ausência de governança já levaram grandes negócios à fragmentação ou ao fim. O protocolo familiar surge justamente como um instrumento de continuidade, que fortalece a empresa sem sufocar a família, e fortalece a família sem comprometer a empresa.
Empresas familiares que entendem esse movimento dão um passo à frente: não apenas crescem, mas perpetuam seu legado. Porque no fim das contas, prosperidade verdadeira não é só gerar riqueza, mas assegurar que ela se mantenha viva, organizada e capaz de atravessar gerações.